terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Valentina Rosselli: dos quadrinhos eróticos para personagem de romance [+18]

A primeira literatura erótica a gente nunca esquece



Para a Valentina que temos dentro de nós

Após o boom que se deu na literatura erótica (para mulheres) à alguns anos atrás - propriamente em 2011 - com o lançamento da trilogia de 50 tons de Cinza de E.L. James, essa literatura ganhou força nas prateleiras de livrarias no mundo todo. É um tanto contraditório talvez, dizer que esse tipo de literatura já existe à um certo tempo com os harlequin, romances publicados (geralmente em bancas de jornais) especificamente para o público feminino podendo ou não conter passagens com conteúdos eróticos.

Com Valentina Na Câmara Escura, a coisa acontece naturalmente, já que foi inspirado em uma personagem já erótica.

Milão, 2012. A fotógrafa de moda Valentina Rosseli vive com seu amante, o crítico de arte e marchand Théo Steen. Quando ele parte em uma de suas misteriosas viagens a negócios, deixa um presente inusitado: um álbum antigo de fotografias eróticas. Ao mesmo tempo, Valentina recebe uma oferta de trabalho intrigante: fazer uma série de fotografias artísticas em um clube de sadomasoquismo.
Veneza, 1929. Belle é o alter ego de Louise Brzezinska, esposa de uma próspero homem de negócios e que está presa num casamento infeliz. Desprezada pela sociedade, Belle decide realizar todas as suas fantasias reprimidas levando uma vida secreta como cortesã.
Apesar de separadas por décadas, as vidas de Valentina e Belle têm muito em comum. Enquanto Belle busca a libertação pelo amor por meio de sua vida secreta, Valentina quer descobrir qual a relação entre a mulher das fotos do álbum que recebeu de presente e ela própria. E mergulha em um mundo obscuro, que traz à tona uma Valentina que ela jamais pensou existir.

Evie Blake - 420 páginas - Europa 


Inspirada na célebre personagem Valentina, criada pelo artista plástico italiano Guido Crepax, a jovem fotógrafa de moda Valentina Rosseli é uma das mais emblemáticas heroínas de graphic novels de todos os tempos.

Com seus cabelos pretos cortados rentes à nuca, inspirados na artista de cinema dos anos 1920 Louise Brooks, ela é a essência da sofisticação europeia. No seu íntimo, vive uma mulher apaixonada e excitante, que não pensa duas vezes para mergulhar em mundos desconhecidos e experimentar seus desejos mais secretos.


Mesmo eu desconhecendo as HQ's das qual Valentina faz parte, Evie Blake, pseudônimo de Noëlle Harrison conseguiu introduzi-la de maneira com a qual nos familiarizamos com ela logo de início. Valentina não  é somente uma personagem erótica, como também é um símbolo de uma era de espírito livre e se manteve como um ícone para os italianos, especialmente na época em que foi publicada (1960).

Não é à toa aliás, que ela tenha sido a protagonista desta história, que não serve somente para mostrar sexo (como muitas por aí parecem fazer), mas sim o que ambas as personagens - já que a história é mais uma forma de duas mulheres semelhantes em épocas diferentes identificarem a si mesma por meio do sexo.

Aqui, as cenas eróticas são descritas ora detalhadamente ora rapidamente, se perdendo sempre em suas emoções e o que a relação provoca no íntimo das personagens e aqui não dura 5 páginas, como já ouvi relatos sobre 50 tons.

Na verdade, a cena começa com erotismo e na maioria dos casos dá lugar aos sentimentos, sem deixar de ser forçado, fluindo naturalmente. Tudo na hora certa, nem demais e nem de menos. Na verdade, aqui o erotismo torna-se essencial para a história, misturando com sexo casual e o amor. Contudo possui uma alta carga erótica, incluindo sexo entre mulheres, ménage à trois, ménage à quatre...
Tudo parece se derreter ao seu redor. Valentina sente a cama ondular, como se estivesse em um barco, entregando-se completamente a sua fantasia. É por isso que esta sala se chama Atlântida, leva as pessoas a mergulhar em um lugar profundo do próprio inconsciente. p.151 e 152
Contudo, sua narrativa tem algumas falhas. Não sei dizer ao certo se isso é consequência da tradução ou do original. Em determinado trecho estamos vendo tudo como meros observadores, para de repente vermos tudo em primeira pessoa. É algo que dificilmente passaria despercebido. 

O andamento do livro pode ser visto para alguns como algo lento e repetitivo em algumas partes, o que pode vir a atrapalhar um pouco, nos forçando a continuar sua leitura. Ainda mais em se tratando de uma narrativa dividida entre passado e presente (2012) com duas personagens de épocas distintas e ao mesmo tempo iguais.

É curioso ver no decorrer da narrativa que ambas as histórias tem uma ligação, não somente sexo e a vontade de ser um espírito livre. Enquanto Valentina descobre mais sobre ela, descobre também coisas sobre Belle, curiosamente através de antigas fotos eróticas.
Valentina olha para o álbum e percebe, então, que se tratava de um livro sobre como o amor deveria ser. Falava sobre como dar e receber prazer, como fazer com que o amor aumentasse e não diminuísse. p.418
Este livro é um dos poucos casos em que houve lançamento simultâneo aqui no Brasil e em outros países. Sua edição nacional está a cargo da Editora Europa, a responsável pela publicação de revistas mensais como Mundo dos Super Heróis e Playstation. Aliás, foi na Mundo dos Super Heróis ed. 39 (Homem Aranha - 50 anos de aventuras) que tomei conhecido desse universo.

Literatura erótica dificilmente estará na minha lista de gêneros favoritos, mas Valentina Na Câmara Escura me seduziu pelo que é, por sua essência e me fez ansiar pelo seu segundo livro de uma trilogia Valentina No Limite do Desejo.

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3 comentários:

  1. Eu não tenho o menor preconceito com literatura erótica e adoro um romance banca, afinal, como diz minha amiga pandora, 50 tons de cinza não passa de um romance de banca! rsrsrs

    Enfim, não conhecia Valentina e fiquei encantada com essa história que me parece ser muito mais do que apenas sexo.

    Adorei a resenha!

    Bjs

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  2. Eu, como a Pers, tenho um fraco por romance de banca e já abandonei tantos preconceitos literários ao longo da vida que acho que não me sinto inclinada a cultivar mais nenhum. No mais, adorei conhecer pelos seus olhos esse trabalho, não garanto que lerei, mas garanto que curtir a experiencia de ler suas impressões e reflexões sobre o livro.

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  3. Escrever literatura erótica de boa qualidade é muito difícil e francamente não estou entre os simpatizantes de 50 Tons de Cinza e seus clones mas aprecio muito a escola de HQ erótica europeia da qual Crepax, Manara e Serpieri fazem parte.
    Eu sugeriria que lesse estes autores Naty.

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