segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Um Oceano de Memórias Mágicas






Depois de abordar O Oceano no Fim do Caminho em uma edição de Li até a página 100 e...  retorno ao
belo novo trabalho de Neil Gaiman.

Como de costume, agradeço a minha adorável  Editora Chefe, Natália, pela oportunidade.


Há algo de inegavelmente invulgar na fantasia de Neil Gaiman. E o novo livro do escritor reafirma tal impressão. As prateleiras das livrarias estão repletas de todo tipo de obras de Fantasia, mas Gaiman destaca-se em meio à multidão.

Há uma humanidade singular em seus personagens, um descortinar do fantástico em meio ao cotidiano e um senso de fragilidade humana encantador em suas criações.

O Oceano no Fim do Caminho reúne o melhor destas qualidades numa viagem lirica, mágica e por vezes assustadora pela infância e pela memória.

Seu pequeno e frágil protagonista, um garotinho de livros e sonhos, arrebata-nos com sua verossimilidade infantil. Nunca o alter-ego de Gaiman em uma obra foi tão claro.

É na mistura poética de memorialismo, terror e fantasia que O Oceano... encontra grande parte de sua força.

Primeiro somos arrebatados pelo cotidiano singelo daquela família comum do interior da Inglaterra para depois sermos arrastados para o turbilhão assustador e aventureiro que tomará a vida do protagonista de assalto.


A enigmática contra-capa do livro

Há um genuíno terror psicológico nas aventuras vividas pelo protagonista. O maior medo que qualquer criança pode ter: ver sua família em risco. Ameaçada por uma força além de seu controle. Eis uma premissa poderosa: uma criança contra um mundo incontrolável.

Aí surge outra força da obra na forma de sua protagonista feminina: Lettie Hempstock e sua família com um oceano no fundo do quintal.

E estamos ali, ofegantes e amedrontados como nosso herói, e as Lempstocks oferecem-nos conforto, calor e coragem. E sentimo-nos em casa novamente.

Elas não são propriamente bruxas. São representantes de um poder ancestral e feminino. Sábio e feroz na defesa do que é realmente importante. O que mais nós (a esta altura já nos tornamos aquele garotinho) poderíamos querer?

É notável a habilidade narrativa de Gaiman. A diferença entre, digamos Lugar Nenhum,  e esta obra é sensível. Percebe-se um domínio da história cada vez maior, uma sutileza e sensibilidade cada vez mais profundas. O desenrolar narrativo é efetivo e sólido. 

Há também uma originalidade fascinante nas imagens fantásticas que o autor concebe e nos monstros genuinamente assustadores que cria. O livro carrega a marca da boa Cultura Pop: o diálogo perfeito entre o lugar comum e a originalidade,  o reconhecível e o novo.

Costurar uma colcha de retalhos de terror, lirismo e beleza é uma tarefa que só um autor realmente habilidoso conseguiria. E aqui Gaiman faz isto muito bem.


Uma rua na cidade natal de Gaiman, Portsmouth, recebeu o poético título do livro como nome.
Certamente um livro como este, por mais que pareça modesto em suas poucas páginas(apenas 204), suscita muitas interpretações diferentes, mas a que ficou comigo é aquela sobre o poder da memória afetiva. Como a redescoberta de um encantamento infantil pode acrescentar emoção a vida banal cotidiana. Como acreditar que existe um oceano mágico no fim do caminho pode dar sentido a vida nos momentos de dor e medo.


5 Mikus





Rogério Prado

Fotografia de Gaiman: Sophie Cowdrey

Rogério Prado é uma entidade perpetua que forja sonhos para habitar as noites das pessoas. Não, esperem, este é o SANDMAN. Rogério Prado é só um apaixonado por livros, música, HQs, filmes, Animação e Cultura Pop em geral. Eu ficaria grato de receber sua visita em minha página: hamletprimeiro

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Um comentário:

  1. Só pelo nome do livro, já dá vontade de ler. Quem não se sente, por vezes, uma criança indefesa no meio de um mundo tão vasto e incompreensível? Gaiman sabe bem apelar aos seus leitores.

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