Depois de abordar O Oceano no Fim do Caminho em uma edição de Li até a página 100 e... retorno ao
belo novo trabalho de Neil Gaiman.
Como de costume, agradeço a minha adorável Editora Chefe, Natália, pela oportunidade.
Há algo de inegavelmente invulgar na fantasia de Neil Gaiman. E o novo livro do escritor reafirma tal impressão. As prateleiras das livrarias estão repletas de todo tipo de obras de Fantasia, mas Gaiman destaca-se em meio à multidão.
Há algo de inegavelmente invulgar na fantasia de Neil Gaiman. E o novo livro do escritor reafirma tal impressão. As prateleiras das livrarias estão repletas de todo tipo de obras de Fantasia, mas Gaiman destaca-se em meio à multidão.
Há uma humanidade singular em seus personagens, um descortinar do fantástico em meio ao cotidiano e um senso de fragilidade humana encantador em suas criações.
O Oceano no Fim do Caminho reúne o melhor destas qualidades numa viagem lirica, mágica e por vezes assustadora pela infância e pela memória.
Seu pequeno e frágil protagonista, um garotinho de livros e sonhos, arrebata-nos com sua verossimilidade infantil. Nunca o alter-ego de Gaiman em uma obra foi tão claro.
É na mistura poética de memorialismo, terror e fantasia que O Oceano... encontra grande parte de sua força.
Primeiro somos arrebatados pelo cotidiano singelo daquela família comum do interior da Inglaterra para depois sermos arrastados para o turbilhão assustador e aventureiro que tomará a vida do protagonista de assalto.
A enigmática contra-capa do livro |
Há um genuíno terror psicológico nas aventuras vividas pelo protagonista. O maior medo que qualquer criança pode ter: ver sua família em risco. Ameaçada por uma força além de seu controle. Eis uma premissa poderosa: uma criança contra um mundo incontrolável.
Aí surge outra força da obra na forma de sua protagonista feminina: Lettie Hempstock e sua família com um oceano no fundo do quintal.
E estamos ali, ofegantes e amedrontados como nosso herói, e as Lempstocks oferecem-nos conforto, calor e coragem. E sentimo-nos em casa novamente.
Elas não são propriamente bruxas. São representantes de um poder ancestral e feminino. Sábio e feroz na defesa do que é realmente importante. O que mais nós (a esta altura já nos tornamos aquele garotinho) poderíamos querer?
É notável a habilidade narrativa de Gaiman. A diferença entre, digamos Lugar Nenhum, e esta obra é sensível. Percebe-se um domínio da história cada vez maior, uma sutileza e sensibilidade cada vez mais profundas. O desenrolar narrativo é efetivo e sólido.
Há também uma originalidade fascinante nas imagens fantásticas que o autor concebe e nos monstros genuinamente assustadores que cria. O livro carrega a marca da boa Cultura Pop: o diálogo perfeito entre o lugar comum e a originalidade, o reconhecível e o novo.
Há também uma originalidade fascinante nas imagens fantásticas que o autor concebe e nos monstros genuinamente assustadores que cria. O livro carrega a marca da boa Cultura Pop: o diálogo perfeito entre o lugar comum e a originalidade, o reconhecível e o novo.
Costurar uma colcha de retalhos de terror, lirismo e beleza é uma tarefa que só um autor realmente habilidoso conseguiria. E aqui Gaiman faz isto muito bem.
Certamente um livro como este, por mais que pareça modesto em suas poucas páginas(apenas 204), suscita muitas interpretações diferentes, mas a que ficou comigo é aquela sobre o poder da memória afetiva. Como a redescoberta de um encantamento infantil pode acrescentar emoção a vida banal cotidiana. Como acreditar que existe um oceano mágico no fim do caminho pode dar sentido a vida nos momentos de dor e medo.
Rogério Prado
Fotografia de Gaiman: Sophie Cowdrey
Rogério Prado é uma entidade perpetua que forja sonhos para habitar as noites das pessoas. Não, esperem, este é o SANDMAN. Rogério Prado é só um apaixonado por livros, música, HQs, filmes, Animação e Cultura Pop em geral. Eu ficaria grato de receber sua visita em minha página: hamletprimeiro
Uma rua na cidade natal de Gaiman, Portsmouth, recebeu o poético título do livro como nome. |
5 Mikus |
Rogério Prado
Fotografia de Gaiman: Sophie Cowdrey
Rogério Prado é uma entidade perpetua que forja sonhos para habitar as noites das pessoas. Não, esperem, este é o SANDMAN. Rogério Prado é só um apaixonado por livros, música, HQs, filmes, Animação e Cultura Pop em geral. Eu ficaria grato de receber sua visita em minha página: hamletprimeiro
Só pelo nome do livro, já dá vontade de ler. Quem não se sente, por vezes, uma criança indefesa no meio de um mundo tão vasto e incompreensível? Gaiman sabe bem apelar aos seus leitores.
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