O Circo Mecânico Tresaulti - Genevieve Valentine - 2013 - 320 páginas - Darkside Books
"Respeitável público, sejam bem-vindos ao incrível Circo Mecânico Tresaulti, o lugar para quem acredita no mundo mágico que nos rodeia. Permita-me conduzi-lo por uma viagem única através da luz e das sombras onde descobriremos juntos uma nova forma de ver tudo e a todos. Onde não existe limite entre o picadeiro e a plateia, onde tudo é real e o único limite é a nossa vontade de sonhar."
Em pleno cenário pós-apocalíptico, O Circo Mecânico Tresaulti ergue sua lona e dá início ao grande espetáculo. Ambientado sobre a perigosa superfície de um mundo devastado, cheio de bombas e radiação remanescentes de uma guerra pela qual todos já saíram derrotados, este belo romance nos apresenta uma caravana circense em eterna viagem através de muitas cidades sem país, região ou rota definida. Lugares que podem não mais existir quando o circo retornar. Aqueles que se juntam ao circo procuram segurança, trabalho sem risco de vida ou apenas uma nova forma de recomeçar. E seguir adiante, apesar de tudo.
Boss, a força motora do circo, agrega novos personagens, atraídos pela sua habilidade muito especial para recuperar corpos mutilados pela guerra, criando assim magníficos seres mecânicos pós-humanos - repletos de cobre, pulmões relojoaria, rodas e pistões -, cada um trazendo para o circo algo nunca visto e sentido antes.
O público se aglomera para ver de perto as proezas desse grupo de pós-humanos fascinantes mas por vezes sombrios. É nesse picadeiro que enxergamos uma parte de nós em um delicada lente de aumento. Não tem como não se apaixonar pela prosa cheia de mistérios e poesias. Valentine, que com este seu primeiro romance foi indicado ao Prêmio Nebula, um dos mais importantes dedicados a literatura fantástica.
Aprecie esse peculiar espetáculo.
E o Circo Mecânico Tresaulti chegou!! "O MAIOR ESPETÁCULO JÁ VISTO"
O Circo Mecânico Tresaulti (lê-se "tresalô) - o livro -, é igual ao circo em si, peculiar. A autora Genevieve Valentine logo de cara já surpreende, por trazer em uma única obra os três tipos de narrativas existentes: o em primeira pessoa; a em terceira pessoa; e a em segunda pessoa, não tão utilizada, onde o narrador reconhece a existência do leitor, permitindo que ele se sinta como parte da história, diminuindo a distância entre ele e o narrador, geralmente utilizando o pronome "você", do qual pelo que me lembro eu nunca havia tido contato.
A trama por detrás da obra não é muito complexa. Basicamente traz a trupe peculiar do Circo Mecânico Treaulti, que apesar de ser em clima sombrio, fascina aquele que o lê. Sua história funciona direitinho dentro da estética steampunk, embora não seja ficção científica, sendo mais levada para o lado fantasioso da coisa, numa terra pós-apocalíptica desolada pela guerra. .
Sua narrativa não possui uma linha linear, e com o tema central são os integrantes do circo, vez ou outra lemos sobre o passados deles, bem como de outros integrantes que já passaram por lá, mas sem deixar de avançar na história, que acontece narrada por Little George, alternando entre o passado e presente. Genevieve faz isso de maneira tão artisticamente que fica difícil não se encantar pela trupe mecânica do circo.
Como a autora se utiliza das três narrativas, vou deixar aqui o papel de cada uma: na narrativa em primeira pessoa, somos levados pela história por Little George, que no circo tem função de ser basicamente o ajudante geral, sendo responsável pela maior parte da narrativa do livro e também por nos apresentar aos personagens que formam a trupe, cada qual com uma modificação mecânica cheia de engrenagens e cobre, modificações estas feitas por Boss, a responsável pelo circo. É curioso que ele nos apresenta cada peculiaridade com assombro ao mesmo tempo com fascínio. Este fascínio aliás, consegue romper a barreira das páginas e é levados até nós, leitores, pois ficamos tão fascinados quanto.
Na narrativa em segunda pessoa (que aparece em diversas partes do livro, inclusive em seu início) o autor conversa diretamente com nós, leitores, seja para explicar a ordem das apresentações (o funcionamento do circo) ou em uma situação específica, como quando você está prestes a morrer, narrando exatamente e precisamente o que está acontecendo, deixando ciente que o circo saiba de sua presença e o deixe (nós, leitor) desconfortável. Essa narrativa serve quando o narrador reconhece a existência da história, diminuindo a distância entre o leitor e o narrador, geralmente através do pronome "você".
E por último, mas não tão importante assim temos a narrativa em terceira pessoa, que serve para nos apresentar detalhes que os outros dois tipos não o fazem, geralmente oniscientes, com comentários cínicos à cerca dos verdadeiros sentimentos das personagens, com observações entre parênteses, ora negando as intenções declaradas, ora revelando o erra das ações, os defeitos em seus planos. Claro, cada narrativa aparece separada na trama, sem complicações e essa mistura o torna especial, de alguma forma.
Como todos bom livro, O Circo Mecânico Tresaulti tem seu antagonista, aqui conhecido somente como o homem do governo, que possui interesse na mágica utilizada por Boss afim de reproduzi-la para criar seu próprio exército para a guerra, que assim como o antagonista, não possui identificação - aliás, todas as cidades pela qual o circo passam carecem de identificação, deixando-nos assim mais fascinados.
Aliás, é esse um dos motivos da obra não ser claramente classificada com steampunk. Não há nenhum menção à cerca da época que a história se passe e ela é voltada à fantasia ao invés da ficção científica - embora seja classificada como uma. O livro traz a estética stempunk, cheio de engrenagens e afins, mas é uma fantasia sombria, cheia de magia, onde os artistas do circo ganham vida por meio de uma habilidade extraordinária, transmitindo através de cada um - e da escrita da autora - o significado da vida e dos seus sentimentos mais íntimos.
Esse livro foi um que eu criei uma grande expectativa, especialmente pela estética steampunk presente - afinal, a primeira história do gênero a gente nunca esquece -, e o livro conseguiu exceder toda e qualquer expectativa num romance extraordinário e elegante, que eu releria com muito prazer.
A editora Darkside Books (especializada em livros sombrios) fez um excelente trabalho com a obra, lançando-o primeiramente em formato brochura (do qual o meu exemplar devia ter vindo acompanhado de um ingresso para o circo), e recentemente em março deste ano, em edição capa dura (limited edition). Além de todo o tratamento editorial em si, a edição brasileira traz ilustrações à altura da narrativa, feitas por Wesley Rodrigues, enriquecendo ainda mais a obra - e ajudando a imaginação a tomar forma com relação ao visual dos personagens.
Para ver outras ilustrações, acesse o blog/site de Wesley Rodrigues |
Leitura feita ao som de "steampunk music", mas especificamente Abney Park e Emilie Autumn
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Opinem, comentem, compartilhem, façam como o filme "A Corrente do Bem" e passe adiante!
E Por favor! Sem palavras de baixo escalão, ou que possa denegrir qualquer pessoa. Lembre-se, quem escreveu o post é uma pessoa igual a você (nem melhor e nem pior). Comentários deste tipo serão deletados.