terça-feira, 7 de julho de 2015

JUN DO: Uma história de amor no país mais fechado do mundo

Jun Do - Adam Johnson - 544 páginas - 2012 - Ficção Norte Americana - LaFonte

Jun Do acompanha a jornada de um jovem através das águas geladas, dos túneis escuros e das assustadoras câmaras de espiões do regime ditatorial da Coreia do Norte. Pak Jun Do é o filho atormentado com o desaparecimento de sua mãe - um cantora "roubada" para Pyongyang - que vive com seu pai, o administrador do Longo Amanhã, um campo de trabalho para órfãos naquele país.
Reconhecido por sua lealdade e pelos instintos aguçados, Jun Do chama a atenção dos superiores do Estado, alcança posições cada vez mais importantes e parte para um caminho sem volta. Considerando-se "um humilde cidadão da maior nação do mundo", ele se transforma num sequestrador profissional que, para sobreviver, navega em meio às regras voláties, à violência extrema e às exigências absurdas das autoridades coreanas. Levado ao limite do que qualquer ser humano é capaz de suportar, ele novamente se vê sem opções quando seu principal rival é o ditador Kim Jong II que ameaça "roubar" a mulher que ele ama.

Jun Do parece ter saído diretamente do livro distópico 1984, de George Orwell, com uma significativa diferença, o fascismo da Coreia do Norte é real!

Jun Do (O Filho do Mestre dos Órfãos, na tradução literal do nome original) é o que temos de mais próximo da ficção de 1984 - embora este seja também um livro de ficção. Enquanto 1984 nos mostra um mundo totalitário, que com a ajuda da tecnologia, o Grande Irmão controla a vida de todos os cidadão. Em Jun Do, temos o tirano "Querido Líder", que em um estado carente de tecnologia consegue manter o povo cativo, assustado, com fome, punindo alguns como exemplos para os demais, impedindo seus cidadãos de terem contato com outras culturas, afim de que o nacionalismo seja posto acima de tudo. Só para terem uma ideia, o próprio Querido Líder é que escrever os livros bem como os roteiros do filme. E sabe qual a pior parte disso? Isso é real.

A narrativa se divide em duas partes: A história de Jun Do e As Confissões do Comandante. A história de Jun Do, como o próprio nome sugere, trata-se de uma introdução para a história, nos apresentando as características da trama, tais como o personagem Jun Do em si e a sociedade - ou seja, o cenário de toda a história. É aqui que vemos como Jun Do (que traduzindo significa João Ninguém), um "órfão" (como condição de ser filho do administrador de um orfanato) se torna um exemplar cidadão coreano, até chamar a atenção dos superiores do Estado, alcançando posições importantes que o faz partir para um caminho sem volta até cair em desgraça.

Sua segunda parte, intitulada As Confissões do Comandante, funciona como um plot twist para a história, dando aquela guinada na narrativa, que aparentemente se apresenta confusa. Isso acontece, porque é a partir desse momento que Jun Do deixa de ser um João Ninguém para ser o respeitado Comandante Ga, onde Jun Do passa realmente a viver, digamos assim. Um adendo é que à partir daqui nos é mostrado três perspectivas diferentes de uma mesma situação, onde nada parece ser o que é. Ou talvez seja.

O curioso da história é o personagem Jun Do. Em certa parte da vida ele acaba se tornando exatamente como a sociedade o molda, não importando se para isso ele precise sequestrar pessoas para Pyongyang (do mesmo modo que alguém fez quando "roubou" sua mãe), ou através de um simples trabalho no mar, espionando barcos e ser utilizado como brinquedo por seus superiores, tendo que mentir para amenizar as consequências de um fracasso.

"Na Coreia do Norte, você não nascia: você era feito" (pág.473).

Embora traga um tema um tanto desagradável, Jun Do também é (aos seus moldes) uma comovente história de amor, com toques sutis de beleza e conquista que através da confiança mútua, seguindo, como o próprio personagem diz, os princípios da cumplicidade.

- Você a amava?- Ainda a amo.- Mas como? - perguntei.- Como você conseguiu conquistar o amor dela?- Cumplicidade.- Cumplicidade? O que é isso?- É quando duas pessoas compartilham tudo, quando não há segredos entre elas. (p.340)

Embora o livro seja claramente uma ficção, vê-se aqui que o autor Adam Johnson trouxe realidade para a obra, nos apresentando o modelo perfeito do fascismo, que é inclusive, de conhecimento público, onde o incidente que aconteceu em maio (e outros) é perfeitamente aceitáveis nas circunstâncias que rege o país norte coreano. É uma história incrível, com uma uma simples inspiração do autor, talvez um fruto de sua visita ao país em 2007. 

O livro é ótimo para aqueles que desejam sair um pouco da zona de conforto, e uma história - que assim como em 1984 - é impossível de esquecer.

Esse post faz parte do I Dare You - Desafio Literário 2015, que possui 12 temas literários para os 12 meses do ano, baseados em datas comemorativas. Junho foi o mês do amor, então os participantes comemoraram com livros românticos, deixando-se levar pela história e viver a vida daquele personagem em um dia tão trágico!

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5 comentários:

  1. Caramba. Esse livro parece ser muito envolvente mesmo. Eu nunca fui totalmente liberal, mas acho estranho também um país viver em uma ditadura como essa. Com certeza é uma história inesquecível.
    Até

    Vidas em Preto e Branco 

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  2. Nossa, parece ser um livro denso e tenso!!! Vou anotar pra ler quando terminar um romance, é bom alternar os gêneros! rsrsrss

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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  3. Olá, Naty.
    Isso que eu chamo de uma dica de ouro. Primeiro porque eu não conhecia o livro e segundo porque ele parece ser exatamente do estilo que me agrada: mais denso, com uma estrutura política que o permeia e com um bom personagem.
    Vou conferir, sem dúvidas.

    Desbrava(dores) de livros - Participe do nosso top comentarista de julho. Serão dois vencedores.

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  4. Eu até me aproximei mais da tela para ler a resenha! Não conhecia esse livro e a história contada nele é uma daquelas que a gente precisa, por questões existenciais, ler e saber que existe.

    Tem coisas acontecendo que precisamos conhecer, quando um autor para e contar elas a gente precisa aprender a para e ler.

    Adorei a resenha, vou guardar esse titulo e buscar por ele em minhas andanças!

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