terça-feira, 9 de dezembro de 2014

O Reino das Vozes Que Não Se Calam

"Naquele mundo, todos tinham importância..."



Um conto de fadas com o pé na realidade.


Sophie se esconde de todos e de si mesma: insegura, não consegue enxergar sua beleza e talento, e sente dificuldade de se relacionar com os outros. Seu dia a dia se perde entre os caminhos tortuosos dos que convivem com a depressão e o bullying, e a jovem aos poucos vai se fechando na escuridão de seus pensamentos. Desamparada e sem coragem de lidar com seus problemas, ela acaba descobrindo um lugar mágico: um Reino onde as vozes não se calam e as criaturas encantadas se tornam reais. Um local colorido onde ela finalmente poderá se encontrar. Dividida entre a realidade e a fantasia, Sophie contará com a ajuda preciosa de um rapaz comum e uma guardiã encantada, que lhe mostrarão os segredos da alma e a farão decidir se vale a pena enfrentar um eterno conto de fadas.

O Reino Das Vozes Que Não Se Calam, Carolina Munhóz e Sophia Abrahão, 2014, 228 páginas, Fantástica Rocco

O Reino Das Vozes Que Não Se Calam traz uma história com uma temática atual e um tanto já conhecida: o bullying. No caso, como comentários à cerca o seu peso e seu visual afetam a vida de uma pessoa, e toda as consequências que isso traz, tais como depressão e dificuldade de se relacionar. Logo, vê-se um livro de Carolina Munhóz e Sophia Abrahão aqui, já que ambas sofreram quase as mesmas coisas que nossa protagonista Sophie, neste caso depressão por causa das agressões físicas/verbais (o bullying) e comentários maldosos à respeito de ser magra demais, respectivamente. 

- Quando ando pelos corredores do colégio, consigo ver as pessoas pelas verdadeiras criaturas que elas são. Muitas me lembram seres do pântano." p.200

Após uma experiência humilhante, o estopim para tudo, nossa protagonista se vê sugada para o Reino, um lugar mágico onde as plantam cantam e onde se encontra a felicidade, com pessoas mágicas ao estilo Alice no País das Maravilhas. Um lugar saído de algum conto de fadas.

Dividida, acompanhamos uma Sophie que tenta escolher entre a fantasia e a realidade, bem como entender sua importância para ambos os mundos. De um lado, auxiliada por Leo, que se vê caidinho por ela. Do outro, por uma Guardiã encantada que é capaz de ler todos os pensamentos.

O livro traz uma perspectiva para a fuga de pessoas que sofrem bullying, não através de drogas ou remédios - ou talvez sim, já que elas são as únicas capazes de nos fazer viajar -, sendo este último utilizado no auge do desespero da personagem, afim de fugir para sempre da realidade, trazendo consequências para ambos os mundos. Aliás, fica clara em determinado momento que Sophie não foge das pessoas que lhe fazem mal, nesse caso todo mundo, mas dela mesma. Não é um livro indicado para pessoas que estejam passando por uma fase ruim. Vai que a pessoa tenta ir para o mundo dos conto de fadas?

As flores tornaram a murmurar. Para Sophie, a impressão final era a de que, naquele mundo, todos tinham importância. Aquele era o Reino das vozes que não se calam." p72

Sem tirar toda a graça da coisa, Carolina e Sophia souberam como conduzir a história com bastante equilíbrio e harmonia, utilizando-se de diversas referências reais, tais como trechos de músicas, livros, moda e a nossa querida internet, bastante presente na versão mais nova do bullying, o cyberbullying, mesmo que o tema tenha sido pouco abordado. Aliás, faltou desenvoltura das personagens secundárias, que são bastante superficiais mas que se mantém essenciais para a redescoberta de Sophie.

A legenda dizia: Acabaram com essa esquisita no começo da festa. Existe alguém que ainda fala com ela? #epicfail." p.58

Mesmo com todo equilíbrio e harmonia presente, houve algumas pontas soltas em seu desenvolvimento. Só eu que li o livro fiquei me perguntando como funciona o sugamento da garota para o Reino? Em nenhum momento é nos dados a tal explicação.  Eu li o livro inteiro com essa dúvida e isso não é legal. Mas fazer o quê? Contos de fadas tem lá sua explicação? Tal como Alice foi parar na toca do coelho ou como Doroth através do furacão caiu em Oz? Essa é a mágica dos contos de fadas. Eles simplesmente acontecem.

Enfim, apesar de alguns contras, os prós valem uma leitura ao livro. Além do bullying, o livro mostra também o quanto o ser humano é frágil, sobre sentimentos, as consequências das atitudes que tomamos, que podem ser positivas ou negativas, que influenciam o ambiente ao seu redor e a importância de cada um.

Entretanto, aquilo podia mudar. Se trazia tanta raiva para aquela dimensão e seus atos eram capazes de silenciar vozes mágicas, era porque seu poder podia ser cada vez mais destrutivo." p.224

O Reino Das Vozes Que Não se Calam é o livro de estreia do selo Fantástica Rocco, da Rocco, que como o próprio nome sugere, publicará livros de fantasia, terror e ficção científica, prometendo trazer o melhor da literatura fantástica nacional e internacional. Criado em agosto, o selo conta somente com os novos livros dos dois principais representantes atuais do gênero no Brasil, Carolina Munhóz e Raphael Draccon. Esperamos que mais venha por aí.


"Nos contos de fada era assim...."

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3 comentários:

  1. Uma das minhas alunas estava lendo esse livro, ela disse que estava achando muito enrolado. Mas, verdade seja dita, ela não sofre do mesmo mal que a protagonista e adolescentes de 12-13 anos tendem a não ser muito empaticos com a situação do outro!

    Mas sua resenha me deu uma imagem terna do livro Naty, me fez ter vontade de pegar ele para ler!

    Obrigada, te ler sempre é uma delícia!
    Cheros, Jaci/Pandora

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  2. Legal a iniciativa da Rocco. Acho interessante seu blog por falar da literatura fantástica nacional, que parece ter tido mais trabalhos publicados em editoras maiores ou pelo menos mais divulgação.

    Fiquei meio em dúvida quanto ao livro em si, embora ache esse tipo de história sobre "fuga" interessante. Levando em consideração que a fuga para mundos mágicos seria uma espécie de metáfora para a instrospecção total, acredito que faz sentido não ter muita explicação.

    Bom texto, gostei como incluiu várias pequenas citações.

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  3. Olá~
    Sempre quis ler algo da Carolina, mas nunca tive a oportunidade... Interessante como ela se ~prende~ (ou diria "se solta"?) no mundo das fadas.
    A capa é bem lindo e as temática é bem interessante... Em certo momento do post, lembrei de Carrie, a Estranha lol
    Parece ser uma leitura interessante, apesar dos buracos que você comentou. Ah, o logo do selo é lindo jdskfjskd
    Abraços~

    ~Nankin Dust

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